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O Causo do Rio

Poucas pessoas imaginam a vida dos representantes comerciais no campo e os malabarismos que fazem para vender ainda no final de mês. Lá vai…

Estava viajando com um dos representantes da indústria. Próximo da divisa com o ES, estrada ruim, sinuosa. Enfrentamos a estrada e chegamos em Carangola ao final da tarde.


Na entrada, fomos interpelados por um rapaz em uma bicicleta que nos esperava e perguntou se erámos da Fábrica. Confirmado, fomos guiados até o novo endereço da loja.

Na loja, o jovem proprietário nos recebeu com simpatia e desconfiança: vieram em dois.

Iniciamos a abordagem, perguntando se após o apagão ocorrido, havia aumentado a procura por lanternas. Negou e apontou para uma bonita lanterna na estante que estava ali há meses. Sugerimos que colocasse mais para frente, o que fez prontamente, vaticinando: não vai vender!


Tentamos uma venda programada, apresentando as vantagens. Informou que se fosse consignação, tudo bem, caso contrário, não queria nem ouvir.

Argumentamos que adquirisse, então, 1 unidade apenas por mês, durante os 6 meses seguintes. Refletiu: e se eu vender bem este produto, este ano? o que venderei no ano que vem para compensar?


Enfim, fomos jantar juntos com o cliente e sua esposa.

Durante a lasanha, mais argumentos, além de ideias para girar. Oferecemos propaganda; mas ninguém ouvia rádio naquela cidade. Um lote de folhetos grátis; mas ele já conhecia seus clientes que só compravam com ele.


Enviaríamos uma faixa para a loja; mas despertaria a inveja do povo de lá que achariam que eles estavam ficando ricos. Faríamos em mais parcelas mas justificou que não seria o caso, pois se estivesse convencido pagaria à vista. E o cardápio de ações indo e voltando. Avisou que iríamos vender para seu concorrente. E para arrematar informou que a cidade estava quebrada.


Fomos procurar um local para pernoitar para seguir a rota. Nosso representante agradeceu e se despediu do lojista, amigo, de tantas visitas.

De manhã, teimosos, resolvemos dar mais uma passada, a última. Deveríamos estar indo mal em nossa abordagem de vendas.


Chegamos cedo, a promessa da lanterna que não venderia, veio logo de cara. Iniciamos a decisiva tentativa, falando da importância de ele ter uma posição mais otimista, fizemos, na prática, o copo de água meio cheio e meio vazio, parecíamos estar persuadindo o cliente, quando, nos levou até a frente da loja e apontou: “Vocês só esquecem do rio logo aqui na frente que cruza a cidade”. E se eu compro programado e chove muito, inunda tudo, entra água aqui na minha loja e então o que é que eu faço com o estoque!!!???


Partimos…

Anos mais tarde lembramos, eu e o representante águia, campeão de vendas e de tantas visitas homéricas realizadas: o Mauro, que batizou seu filho como Alvaro.


 
 
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